2 de junho de 2011

Aquecimento global e ceticismo


Recebi um link para esse texto no twitter e achei muito válido repassar. "O Guia Científico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global" aborda as evidências de que a atividade humana está causando o aquecimento global, além de também contra-argumentar os "céticos" do clima, ou seja, aqueles que ainda não se convenceram da existência do aquecimento global e de que este é causado pelo homem. É um texto não muito longo (11 páginas), bem ilustrado e explicado, sem muita linguagem técnica. 

Recomendo também acessar o site "Skeptical Science" para vários outros textos em inglês relacionados com o aquecimento global. Informação nunca é demais ;)


26 de abril de 2011

Atenção por atenção, uma melancia também funciona

Minha mãe acha muito feio criança que, por onde passa, sai arrancando folhas das plantas ou jogando pedras nos animais. Eu também compartilho dessa opinião e acho igualmente desagradável quando os pais não educam seus filhos nesse aspecto. Quando meu irmão e eu éramos pequenos e um de nós dois, por qualquer motivo que fosse, arrancasse uma folha, minha mãe dizia que a gente não deveria fazer isso porque fazia a plantinha chorar. Mesmo que a gente dissesse que não estava vendo tal fenômeno extraordinário, ela insistia e a gente acatava. Quando não era a planta, era papai do céu quem ficava triste.

Se os vegetais realmente fossem como minha mãe passava pra gente, o sofrimento seria algo parecido com o do vídeo a seguir:


Bobagem, ou não, funcionou. A mensagem foi passada da maneira correta para o público-alvo (crianças menores de 7 anos). Mas hoje eu já não engulo essa de ficar humanizando animais. Sou formado em biologia, acho ecologia uma das áreas mais interessantes, sei do valor que tem a fauna, a flora e a diversidade, mas não me desce a ecobobagem desse vídeo:



É pra chamar a atenção das pessoas? Das que viram o vídeo, sim, tudo bem. Até vi alguns comentários positivos apoiando a iniciativa. Mas não sei se prender as pessoas no elevador vai gerar o tipo de atitude que o pessoal do SOS Fauna quer estimular. Conheço gente que mandaria esse povo pra PQP na hora, com ou sem câmera gravando, independente de condenar ou não o tráfico de animais silvestres.

Mesmo que o objetivo tenha sido restrito ao tráfico de animais silvestres, prender pessoas também poderia ser comparado ao aprisionamento de animais em geral, sejam estes silvestres ou não. Realmente existem pessoas que são radicais ao ponto de serem contra todo aprisionamento de animais. Penso que há casos e casos. Concordo que o confinamento em espaços infímos seja um tipo de crueldade. Porém, se forem dadas condições de vida satisfatórias e condizentes com a espécie, não vejo lá grandes problemas.

Talvez esteja aí um dos principais problemas: a subjetividade do que seriam bons e maus tratos. Mas como eu não quero aqui impor regras de cuidados com animais, vou repassar essa denúncia do site The Onion que mostrou o quão desumano é o tratamento do PETA com as mulheres:


Advocacy Group Decries PETA's Inhumane Treatment Of Women

Acho justo que hajam debates e campanhas de conscientização de temas como o tráfico de animais silvestres e o confinamento de animais. Mas se você quer me prender (seja em gaiola, caixa ou elevador) para me sensibilizar e convencer a não confinar animais (silvestres ou não), vá pra PQP.

6 de abril de 2011

Margarina, plástico e um hoax jurássico


A criatividade humana está de parabéns. É incrível como conseguem inventar histórias de pedidos de ajuda a alguma criança, de vírus no computador que tem a aparência de ursinho, de internacionalização da Amazônia, de cristais de água que se modificam pelo sentimento das pessoas etc, e convencem uma legião de bestas a repassarem a mensagem por e-mail ad infinitum. 

Hoje eu fui vítima de um hoax velhíssimo. Mas não por e-mail, veja só, foi pelo Twitter.


Pois é, eu retuitei isso. Por que é realmente engraçado como um átomo ou molécula pode fazer a diferença. No caso da grafite, do diamante e do grafeno, não há sequer adição ou subtração de átomos, apenas diferenças na estrutura destes. Nada de mais até aí. Só que o buraco é mais embaixo.

Eu fui procurar mais sobre essa história da margarina ser tão parecida com plástico. Não sou químico, mas queria saber mais. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que a informação era falsa (hoax pelo twitter ainda é novidade pra mim, droga). Pelo que consegui rastrear, o registro mais antigo é de 2001. Tem até versão em espanhol e em inglês. Ele fala sobre as diferenças entre a manteiga e a margarina, tem uma série de informações equivocadas e ainda termina com uma pérola! Segue o texto:
MARGARINA É QUASE PLÁSTICO

Texto muito interessante que vi num site, de autoria do dr. José Geraldo Ferreira Gonçalves do Instituto de Patologia Clínica Hermes Pardini.
Qual é a diferença entre margarina e manteiga?
Ambas têm a mesma quantidade de calorias.

A manteiga:
- Tem um pouco mais de gorduras saturadas - 8 gramas contra 5 gramas.
- Comer margarina pode aumentar em 53% a incidência de doenças cardíacas em mulheres, quando consumida na mesma quantidade que manteiga, segundo um estudo recente da universidade de Harvard.
- Comer manteiga aumenta a absorção de muitos nutrientes presentes noutros alimentos.
- A manteiga traz mais benefícios nutricionais, enquanto o pouco que a margarina traz lhe foi adicionado!
- A manteiga é muito mais saborosa que a margarina e pode melhorar o sabor de outros alimentos.
- A manteiga existe há séculos e a margarina há menos de 100 anos.

Agora, sobre a margarina:
- Tem teor altíssimo de ácidos graxos tipo trans.
- Triplica o risco de doenças coronárias.
- Aumenta o nível de colesterol total e o de LDL (o "mau" colesterol). Reduz o nível de colesterol HDL (o "bom" colesterol)..
- Aumenta em cinco vezes o risco de cancro.
- Reduz a qualidade do leite materno ...
- Deprime a resposta imunológica...
- Reduz a reacção insulínica.
- E eis o facto mais perturbador....

AQUI É QUE FICA INTERESSANTE!
A diferença entre o plástico e a margarina é de apenas UMA MOLÉCULA... Basta isso para evitar por toda a vida a margarina e tudo o que for hidrogenado (isto significa que acrescentaram hidrogénio, mudando a estrutura molecular da substância).
Você pode experimentar por si próprio. Compre uma embalagem de margarina e deixe-a aberta na sua garagem ou algum lugar sombreado.
Em poucos dias você vai notar duas coisas: nenhuma mosca (nem aquelas terríveis mosquinhas das frutas) vai chegar perto dela (isso deveria lhe dizer alguma coisa) ...Não vai apodrecer nem ficar com cheiro esquisito..
Como não tem nenhum valor nutritivo, nada crescerá nela, nem mesmo aqueles microrganismos minúsculos encontrarão ali um lar para viver. Por quê? Porque é quase plástico.
Você derreteria os seus potes de plástico para passar no pão?

José Geraldo Ferreira Gonçalves
Instituto de Patologia Clínica Hermes Pardini

Bem, por último, essa pérola. A margarina, assim como a manteiga, não é formada por apenas uma substância. Ela é composta, principalmente, por um conjunto de ácidos graxos saturados e insaturados. A listagem de ácidos graxos saturados da Wikipedia tem 34 e a de poliinsaturados tem mais de 30 também. Não quer dizer que todos eles estejam juntos na mesma manteiga ou margarina, mas neste estudo aqui foram observados 7 ácidos graxos (saturados e insaturados).

Plásticos também não são todos iguais: existe polietileno, poliéster, polipropileno, poliestireno, poliamida, policarbonato, PVC etc. São em geral polímeros de alto peso molecular, podendo conter outras substâncias para melhorar o desempenho ou reduzir custos de produção. Mas, pra ficar fácil visualizar, vou colocar duas fotos: uma de um ácido graxo monoinsaturado (ácido oleico) e outra do polietileno (o tipo mais utilizado e que é o mesmo dos sacos plásticos).

Ácido oleico
Polietileno

Viu como são diferentes? Não é somente por uma molécula. Também tem que se levar em conta a forma como os átomos de carbono estão ligados entre si e como estão arranjados espacialmente. Então, a margarina está looonge de ser parecida com plástico. Apesar de que algumas realmente não tem gosto nenhum.

Ignorem o nome da pessoa e do instituto. Eles foram adicionados apenas para dar alguma credibilidade. Apesar de ambos existirem, o tal Instituto de Patologia Clínica Hermes Pardini afirmou que o texto não tem qualquer relação com a instituição deles

Bobagens assim são repassadas eternamente, sem muito critério nem pensamento crítico. Muitos desses textos dão suporte a crendices e visões erradas ou preconceituosas das pessoas, o que reduz as chances de alguém desconfiar e buscar respostas. Mas em todos os casos, é a ignorância que permite a perpetuação dessas lendas.

Disclaimer: o autor declara que tem preferência por manteiga por conta do sabor, mas que substituiria (na verdade, já substituiu durante três anos) por margarina caso fosse necessário.

24 de março de 2011

DNA - o calipso da genética

Hoje eu trago uma música nova que gostei bastante. Ela é muito legal, divertida, tem um ritmo super agradável e tem bastante conteúdo, falando do DNA, mutações, doenças, pares de bases etc. Ainda não encontrei a letra dela disponível, mas assim que achar eu posto.



Jonny Berliner é o autor da música, que fez parte do Geek Pop 2011, um festival gratuito de música online criada por artistas inspirados em ciência. Para outras músicas do festival, vejam o álbum Geek like me.

Ouvi pela primeira vez no podcast da Nature.

ps: "calypso", do inglês, pode ser traduzido como "calipso" mesmo que, segundo o dicionário, é um "gênero de música popular originário do Caribe, de andamento sincopado e com letra geralmente improvisada". Certamente a banda do Pará não tem a ver com isso.

23 de março de 2011

Especializando para conquistar

Existem pessoas que conseguem transformar qualquer assunto na melhor história da sua vida. Tudo bem, talvez não na melhor, mas certamente numa memorável e que prende a sua atenção. Essa afirmação vale tanto para os amigos em conversas de bar quanto para professores em assuntos sérios discutidos em sala de aula, seminários, congressos etc. Porém, neste último caso, é tão difícil (e por isso tão raros os que conseguem) entusiasmar o espectador que eles merecem mais do que atenção. Deveriam servir de modelo.

Hans Rosling parece o tipo de professor que consegue atrair a atenção de qualquer um, mesmo falando de um dos assuntos considerados mais chatos do mundo: estatística. Mas de chato o vídeo abaixo não tem nada. O título aliás, já denuncia: as melhores estatísticas que você já viu.


Impressiona a habilidade dele em contagiar seus espectadores com o entusiasmo. Claro, não se pode exigir a mesma desenvoltura de todos os professores. Mas ele certamente serve de fonte de inspiração.

O ensino e a pesquisa (como em qualquer profissão) exigem uma boa dose de vocação e de trabalho árduo de qualquer um que busque se destacar ou desempenhar bem. Conheço uma porção de gente que está cursando a pós-graduação e trabalha arduamente em seus laboratórios. Contudo, não sei dizer ao certo quantos realmente anseiam por trabalhar ou como pesquisador, ou como professor quando concluírem seus cursos. Pior, não sei quantos deles serão forçados a pesquisar E ensinar enquanto tem uma vocação mais clara para uma ou outra atividade. 

Infelizmente, essa é uma realidade que vejo desde os tempos da graduação. Em alguns professores era muito claro quando sua vocação estava apenas na pesquisa ou no ensino. Poucos, como o Hans Rosling, eram bons nos dois aspectos. Isso acaba gerando professores que só dão aulas para cumprir carga horária ou pesquisadores com pouca produção científica. E nem vamos mencionar a extensão...

Muitos acadêmicos sabem que quanto mais uma pessoa se especializar num assunto ou numa área, mais competência ela terá para discutir e trabalhar o ponto. Com base nisso, imagino que o ensino superior teria muito a ganhar se especializasse os profissionais para desenvolver, individualmente, o ensino, a pesquisa e a extensão. Por exemplo, o professor teria de cumprir uma carga horária de aulas e seria o responsável pelas disciplinas; o pesquisador ficaria responsável pelo andamento dos projetos de pesquisa da instituição, orientando graduandos, mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos; o coordenador de projetos de extensão (por falta de palavra melhor) seria o responsável por disseminar o conhecimento das universidades para a comunidade e facilitar a ponte entre o mundo acadêmico e a sociedade. Porém, apesar de ter metas bem claras para cada classe, cada uma poderia ser estimulada a fazer um pouco mais, como o professor realizar pesquisa ou extensão. Afinal, se hoje em dia há professores que, heroicamente, conseguem desempenhar bem dois dos três papéis (ainda não conheci nenhum que fosse bom nos três), não se pode negar trabalho a eles.

Não sei até que ponto um modelo semelhante contribuiria no aumento da eficiência. Porém, especializar os profissionais e estabelecer metas que sejam condizentes e razoáveis certamente melhorariam a qualidade do ensino, pesquisa e extensão das universidades.

Mais sobre Hans Rosling:
Wikipedia - bio (inglês)
Contraditorium (português)

Discussões relacionadas:

10 de outubro de 2010

Cadê a paixão? Cedeu lugar para a vida?


Recentemente foi publicado um artigo intitulado "Where's the passion?" escrito por Scott E. Kernel, pesquisador do instituto John Hopkins, em Baltimore, EUA. O texto aborda a dedicação (i.e. horas trabalhadas por semana) dos pesquisadores quanto a seus experimentos relativos ao estudo do câncer. O tom dele é bastante crítico, enfatizando (várias vezes, aliás) o quanto foi gasto na construção do instituto e como os pesquisadores simplesmente não se dedicam o bastante para fazer valer o investimento e para curar os pacientes que sofrem de câncer. Seguem alguns trechos:

It is Sunday afternoon on a sunny, spring day. I’m walking the halls — all of them — in a modern $59 million building dedicated to cancer research. [...] And the two buildings are largely empty. Yesterday at noon, I did the same. Last weekend, three days ago at seven in the evening and three days earlier at nine in the morning and for a number of days last winter, the same.

Reparem: ele foi num domingo à tarde, num sábado ao meio-dia, e durante a semana às 9h e às 19h (um adendo: o expediente é das 9h às 17h), mas sempre encontrava os laboratórios praticamente vazios. Se formos comparar com a nossa realidade, nos fins de semana, nos primeiros minutos e horas depois do expediente, realmente não há muuuita gente trabalhando em laboratórios de pesquisa. Talvez nem seja muito bom fazer essa comparação - eu ainda lembro o quanto a faculdade ficou vazia durante os jogos do Brasil na Copa.

Today, tens of thousands of cancer researchers work barely 40 hours a week on a scourge that kills 30% of all persons, many of the victims young or of childbearing age, a puzzle involving the most severe analytic difficulties. Who is being naïve? Do we have the army we need in this war? Where is the passion?

Aqui ele faz um grande apelo emocional e acaba pisando na bola. Engraçado como realmente existem muitas pessoas que fazem uma relação direta entre horas no trabalho e produtividade/dedicação. Infelizmente, não é tão simples assim. Todo mundo já conheceu pessoas "eficientes", que resolvem milhares de problemas em pouco tempo, e pessoas "ineficientes", que levam dias ou até semanas para fazer o mesmo que essa pessoa "eficiente". Existem também aquelas que cumprem direitinho a carga horária do trabalho, mas não apenas trabalhando - podem tanto cumprir tarefas não associadas ao trabalho (estudar, por exemplo) ou mesmo ver bobagem na internet.

Um outro ponto é que paixão não transforma todas a pessoas em workaholics. Eu conheci pessoas apaixonadas pelo que fazem, eficientes, mas que não estavam toda noite ou todo fim de semana no laboratório. Aliás, um destas pessoas, por um período, só podia estar no lab em semanas alternadas. Porém, ela conseguia trabalhar mais e ter mais resultados do que algumas outras que estavam por lá todas as semanas. E aí?

Todo mundo precisa de descanso, esvaziar um pouco a cabeça, relaxar. Isso é fundamental para manter a saúde e, vejam só, trabalhar melhor. Não é raro ocorrerem boas ideias durante um momento de lazer - falo até por experiência própria. Quantas vezes não encontrei novas formas de abordar um problema ou de escrever um texto? Até mesmo já lembrei de pessoas para tirar uma dúvida ou pedir uma ajuda.

 “Don’t the people with families have a right to a career in cancer research also?” I choose not to answer. How would I? Do the patients have a duty to provide this “right”, perhaps by entering suspended animation?


Aqui ele apela bastante, ao ponto de ser engraçado, até. Quase posso ouvi-lo dizer: "Não saia daqui enquanto não tiver encontrado uma cura!" Como o trabalho dele é com câncer, nada menos do que dedicação exclusiva extrema é razoável. Afinal, quanto antes a doença for curada, melhor, pois mais vidas serão salvas. Eu até concordaria com esta afirmação se não houvesse a exigência de 60 horas semanais de trabalho no laboratório. Não seria mais simples contratar mais pessoas para trabalhar durante este tempo ocioso? Por que quem cumpre a sua obrigação (às vezes mais que isso), porém não passa fins de semana no laboratório, seria alguém sem paixão pelo que faz?

Por fim, quero compartilhar alguns links de outros blogs que também comentaram este artigo:
Is Science a Job or a Calling?
Hey Scientists! (Don't) Get a Life!
More is better? Received widsom in the tribe of science.

16 de julho de 2010

Replicação, transcrição e tradução visualizadas

Recebi este vídeo pelo twitter @NatureNews e achei absolutamente fantástico. Ainda que ele não possua legendas, certamente vale a pena assistir.